Terceirização: A polêmica que atormenta as leis trabalhistas do país
- Carolina Keyko
- 7 de mai. de 2015
- 3 min de leitura

No Brasil, a terceirização é um fenômeno que tomou fôlego a partir de
1990. Antes, sua prática era restrita, considerando-se lícita apenas à
prestação de serviços de conservação e limpeza. Toda contratação
intermediada era considerada fraudulenta, gerando vínculo empregatício dos
trabalhadores terceirizados com a empresa tomadora dos serviços
prestados.
Percebe-se que a temática da terceirização do trabalho é bastante
complexa e alvo de muitas discussões que opõem empresários e
sindicalistas. De toda forma, esse processo vem se acentuando com o
avanço da globalização e do Capitalismo Financeiro pelo mundo, além do
regime de Acumulação Flexível, que, entre suas ideias iniciais, defende a
descentralização das atividades produtivas.
Para se ter uma ideia, na Petrobrás existem mais de 300 mil
terceirizados, enquanto os concursados não chegam a 90 mil. Daí os efeitos
nefastos da terceirização que também contribui com o aumento da
sonegação fiscal, além da queda da arrecadação em função da diminuição
da folha de pagamentos, com incalculáveis prejuízos aos fundos públicos,
como fundo de garantia, previdência, entre outros.
Para a advogada trabalhista e professora da PUC-SP Fabíola Marques
a nova lei da terceirização só é boa para o patrão, “que vai terceirizar
sempre que isso lhe trouxer uma redução de custos. De acordo com ela, a
medida trará economia na folha de pagamento e nos encargos trabalhistas
das empresas.
Na atualidade, as empresa, principalmente as públicas e as de
economia mista, constituem suas força de trabalho na forma de empregados
próprios, os denominados primários e os complementam com os
empregados terceirizados, com vínculos diretos de subordinação,
habitualidade e pessoalidade na relação de trabalho e os denominam de
“Colaboradores”, que passam a executar serviços das atividades propostas.
Regulamentar a terceirização como forma de atenuar seus efeitos
pode ser um caminho, que nos impõe repensar o assalariamento.
O mercado defende que com o modelo atual, as empresas acabam arcando
com muitos encargos – incluindo eventuais processos trabalhistas -, o que
gera um receio de contratar e prejudica a criação de postos de trabalho.
Com a alteração na lei aprovada, existe um discurso do setor de que,
com parte das responsabilidades compartilhadas com uma terceirizada –
caberá a ela arcar com encargos trabalhistas -, haveria um aumento no
número de vagas no mercado e um incremento no emprego. Esse ponto é
questionado por centrais sindicais e especialistas, já que nada garante que
haverá um aumento de contratações.
Graça Costa, secretária das relações de trabalho da CUT Nacional,
diz que a terceirização “vai fragilizar o mercado e deixar os trabalhadores
vulneráveis por serem terceirizados”. A própria CNI - Confederação Nacional
da Indústria - fez uma pesquisa em que 91% dos empresários fazem
terceirização para diminuição dos custos, isso significa “que vamos colocar o
mercado brasileiro a mercê dessa posição do empresariado de redução de
custos o que vai, no nosso entendimento, alavancar a precarização do
trabalho” completa Graça.
Os dados são contundentes. Em comparação com os trabalhadores
diretamente contratados, os 12,7 milhões de terceirizados no país, hoje,
trabalham, em média, três horas a mais por semana; ganham 27% a menos;
concentram 70% dos acidentes de trabalho que ocorreram no Brasil nesse
último período; 80% das mortes decorrentes de acidentes e a maior parte
dos adoecimentos. Nos últimos três anos, o Ministério Público do Trabalho
fez inúmeras operações de libertação de trabalhadores em condição análoga
à escravidão. Nelas, foram libertados cerca de 3.500 trabalhadores nessas
condições.
Deles, 3.100 eram de empresas terceirizadas. Isso demonstra,
cabalmente, que o universo de trabalho terceirizado degrada as condições
de trabalho; remuneração; o acesso desses trabalhadores a direitos; suas
condições de representação sindical, e isso não são boas para o país e para
a sociedade.
Ela precisa estar bastante informada sobre o que está sendo decidido
no Congresso, porque a gente está diante da possibilidade de escolher entre
uma sociedade que oferece, predominantemente, isso como ocupação no
futuro ou lutar para que o mercado de trabalho seja mais estruturado, haja
uma ampliação do acesso a direitos, as condições sejam mais protegidas e
o trabalhador possa, a partir daí, desempenhar sua função com maior
produtividade.
Com a lei da terceirização, empresas economizam na folha
de pagamento às custas da mão de obra dos terceirizados.
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