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Alojamentos especiais nos campos de concentração nazistas

  • Carolina keyko
  • 7 de abr. de 2017
  • 4 min de leitura

Historiador alemão conta sobre os prostíbulos criados para incentivar trabalhadores forçados.

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Ilustração: Theo Szczepanski

Tida como uma das profissões mais antigas do mundo, a prostituição retorna a pauta no livro Das KZ Bordell, do historiador Robert Sommer, onde é contada a história das criações de bordéis dentro dos grandes campos de concentração durante o Nazismo.

Com 460 páginas, o livro é resultado de uma pesquisa minuciosa sobre todos os 10 ex-campos de concentração onde os nazistas mantiveram os chamados “alojamentos especiais” entre os anos de 1942 e 1945.

Criado por Heinrich Himmler, chefe de segurança de Hitler, sob o pretexto de criar um sistema de bônus que os prisioneiros dos campos podiam usar para comprar privilégios, como cigarros ou sexo, pois Himmler acreditava que a busca e a saciedade pelo sexo poderia forçar os homens a trabalhar mais.

Quem eram essas mulheres?

A grande maioria das mulheres que “serviam” nos alojamentos, vinha dos campos de concentração de Ravensbrück e Auschwitz, campos só para mulheres. Segundo o pesquisador, “aproximadamente 70% destas mulheres eram alemãs”. As demais vinham da Ucrânia, Polônia e Belarus.

O alojamento era diferente daqueles que Margarete W., então com 25 anos, conhecia de seu tempo no campo de concentração feminino de Ravensbrück. As mulheres foram levadas para uma sala mobiliada, o lugar tinha mesas, cadeiras, bancos, janelas e até mesmo cortinas. A supervisora

da “casa” informou às recém-chegadas que agora estavam em um "bordel de prisioneiros” e que se fossem “good girls”, teriam boa comida e bebida e nada aconteceria com elas. Rotuladas como 'socialmente indesejáveis' ou 'antissociais', foram iludidas com a proposta de se livrarem dos tormentos dos campos, mas essa promessa nunca foi cumprida.

Quem frequentava os alojamentos?

Os frequentadores dos bordéis eram divididos em 3 classes. No topo da hierarquia estavam os comandantes das diferentes frentes de trabalhos, cozinheiros, barbeiros e funcionários dos correios. Essa primeira leva batia ponto no estabelecimento.

Na sequência, um bloco bem maior e que frequentava raramente o lugar era formado pela grande massa trabalhadora das plantações e das fábricas. Nesse “pelotão”, havia muitos jovens que teriam suas primeiras relações com essas mulheres.

E a última classe era a dos trabalhadores forçados pela SS a frequentar o bordel — mesmo que não quisessem ir ao prostíbulo, os militares acreditavam que o sexo iria aumentar a produtividade deles. Há relatos de homossexuais que eram obrigados a transar com as damas para serem curados, e você achando que a “cura gay” é coisa atual, hein?!

Como funcionava o sistema?

Como em toda a sociedade alemã da época, judeus, homens ou mulheres não eram permitidos nesses locais, e homens alemães apenas podiam se relacionar com mulheres alemãs, o mesmo ocorria com pessoas de diversas outras nacionalidades, como poloneses e austríacos.

O sistema era muito bem organizado e mecânico. As mulheres acordavam às 7h30, tomavam banho e se vestiam. No decorrer do dia, faziam os deveres de mulheres comuns, como limpar a casa e arrumar os quartos para que, quando os homens voltassem do trabalho, pudesse ter as relações. Segundo Sommer, “elas passavam o dia todo apreensivas esperando o momento em que teriam de se prostituir”, e atendiam por duas horas.

Para usufruir do trabalho sexual, os soldados tinham que pagar com cupons que recebiam por seus trabalhos dentro do campo, como uma gratificação. Assim como nas cadeias atuais, esse papel era usado como moeda de troca.

As mulheres valiam apenas dois Reichsmark (moeda da Alemanha entre 1928 e 1948), sendo que apenas um quarto disso ia para a prostituta e a desvalorização não parava por aí, pois elas valiam menos que um maço de cigarros, que na época custava 3 Reichsmark.

Você acha que só bancos pedem formulários para se conseguir serviços? A meu caro, saiba você que para conseguirem frequentar o bordel, era necessário fazer uma ficha, que seria avaliada pelos comandantes da SS. Após todo esse trâmite, os aprovados eram chamados no fim do dia e se organizavam em duas filas, esperando a sua vez. Para tornar a coisa mais estranha, antes de entrarem era necessário passar por uma consulta médica para tomar uma injeção com contraceptivo. Depois, seguiriam para o quarto que estava disponível (não havia a possibilidade de escolha da prostituta).

A “foda” durava apenas 15 minutos e só era permitida a posição “papai e mamãe” e para piorar a situação, todos os quartos eram vigiados pelos guardas da SS por meio de buracos na porta do quarto. Se não saísse no tempo determinado, um oficial tirava o prisioneiro à força do recinto. Antes de deixar o bordel, o trabalhador passava novamente por inspeção médica. Tenso não?

O trabalho de pesquisa foi árduo, e, segundo Sommer, “mesmo após mais de 6 décadas, há ainda muito receio em tocar no assunto.” Muitos museus que falam sobre o nazismo na Alemanha não queriam dar informações. As marcas foram tão profundas que o historiador encontrou apenas uma das vítimas viva e ela disse que “não quis me dar entrevista porque nunca mais quis falar com um alemão de novo”, disse em uma entrevista.

O livro de Robert Sommer, “Das KZ Bordell " foi publicado em 2009 pela Schöningh Verlag, Paderborn e não tem tradução para o português brasileiro.

 
 
 

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